sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013



                       Mistério na Mata

Foi quando os cães vieram que ele revirou o rosto inquisidor, como se quisesse perceber o que um cão sentia ou pensava, se é que algum animal, mesmo mamífero, pensasse, refletia enquanto os cães saltavam e soltavam alegres ganidos ao redor dele em rodopios e falsetes, malabarismos canídeos frente ao homem que existia. Quem eram aqueles cães, de onde vieram, com que propósito? Debruçava-se nessas questões, o homem que sentia, quando um estampido curto interrompe as reflexões e festas. Tiro? Espoleta? Bombinha de festa junina? Sabia apenas que era próximo, o som. Todos ficaram imóveis, o homem e os cães. Ficaram assim, na densa floresta, inertes a analisar o som que irrompera ali perto, cães analisavam? Indagara-se o homem, que quase esquecia o som curto do tiro que perpassara seu peito, aonde surgira um pequeno buraco, por onde jorravam grotas de sangue. Sangue tão vermelho quanto o de cães... E, antes de desfalecer, pensou, aqueles cães eram anjos? Caiu, morreu e deixou de refletir, existir e sentir, os cães uivaram aos céus.

Cristiano Melo, 13 de junho de 2008.

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