Mistério na Mata
Foi quando
os cães vieram que ele revirou o rosto inquisidor, como se quisesse perceber o
que um cão sentia ou pensava, se é que algum animal, mesmo mamífero, pensasse,
refletia enquanto os cães saltavam e soltavam alegres ganidos ao redor dele em
rodopios e falsetes, malabarismos canídeos frente ao homem que existia. Quem
eram aqueles cães, de onde vieram, com que propósito? Debruçava-se nessas
questões, o homem que sentia, quando um estampido curto interrompe as reflexões
e festas. Tiro? Espoleta? Bombinha de festa junina? Sabia apenas que era
próximo, o som. Todos ficaram imóveis, o homem e os cães. Ficaram assim, na
densa floresta, inertes a analisar o som que irrompera ali perto, cães
analisavam? Indagara-se o homem, que quase esquecia o som curto do tiro que
perpassara seu peito, aonde surgira um pequeno buraco, por onde jorravam grotas
de sangue. Sangue tão vermelho quanto o de cães... E, antes de desfalecer,
pensou, aqueles cães eram anjos? Caiu, morreu e deixou de refletir, existir e
sentir, os cães uivaram aos céus.
Cristiano Melo, 13 de junho de 2008.
Cristiano Melo, 13 de junho de 2008.
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