Projeto de Combate a Dengue: educabilidades possíveis a partir do enfoque doença.
Universidade Federal de
Juiz
de
Fora
– UFJF
Resumo
O presente trabalho tem
como objetivo relatar a intervenção pedagógica realizada sob a
perspectiva da educação em ciências para os anos iniciais do ensino fundamental,
tendo como conceito construir conhecimentos a priori em uma escola pública da
rede municipal, na cidade de Juiz de Fora, acerca de assuntos relativamente
ativos na comunidade a qual a escola está inserida. Através do Programa
Institucional da Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), realizado pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o acesso à sala de aula foi
possível, permitindo assim a atuação e prosseguimento do projeto denominado “Combate
a Dengue”, visto que esta doença se alastrou de maneira significativa na cidade
de Juiz de Fora e a prevenção era o fator determinante para reduzir o número de
casos encontrados. Neste contexto, o trabalho sobre a dengue possibilitou
diversas veredas enriquecedoras para atrair a atenção dos alunos e através da
vasta temática sobre doenças, o projeto rompeu os muros escolares na busca pelo
verdadeiro papel da escola na sociedade: a reflexão dos cidadãos sobre como
construirmos um mundo que queremos viver.
Palavras-chave: Ensino de
ciências; Combate a dengue; Reflexão.
Introdução
Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado um
aumento rigoroso de casos e óbitos causados pela dengue. Segundo dados
estatísticos da Organização Pan-Americana da Saúde (Pan American Health
Organization – PAHO), no ano de 2012, o Brasil apresentou 70.489 casos e em
2013, apresentou 204.650 notificações.
Considerando a proliferação do Aedes Aegypti, que alcança a fase adulta entre sete a dez dias e
observando também que sua reprodução depende de ambientes facilmente propícios,
é notório pontuar que esta doença está cada vez mais constante em nosso país e,
visto que a ferramenta principal para a erradicação da doença é a prevenção,
iniciou-se a estrutura de um projeto que tivesse como objetivo fim,
primeiramente, apresentar como prevenir a sociedade desta doença.
A partir das observações dos números de casos
cada vez mais recorrentes na cidade de Juiz de Fora e da localização da escola
em um bairro com números alarmantes de dengue, começou-se a processar
efetivamente a viabilidade do projeto na escola.
A bolsa PIBID, programa desenvolvido pela
UFJF, procura alinhar conhecimentos teóricos e práticos, como também entrelaçar
diversas licenciaturas a fim de que todo o processo seja, de algum modo, um
aprendizado pedagógico. Como fundamento para o projeto era necessário à união
das disciplinas de ciências e pedagogia, como forma de amplamente ensinar a
todos, não apenas aos alunos, a ciência envolvida no problema proposto. Assim,
o estudo de ciências nas escolas tornou-se um instrumento valioso para desenvolver
o processo de construção do conhecimento do aluno, destacando o papel escolar
no contexto social, buscando o entendimento dos alunos a priori, para em um
segundo momento, leva-los às famílias.
Sendo
assim, o professor é um facilitador do processo de ensino, que no estudo das
ciências nas escolas pode também tornar-se um grande aliado no aumento da
qualidade de vida de seus atores, visto que as ciências envolvem temas de
bem-estar social, prevenção e combate, alimentação, reciclagem e tantos outros
assuntos inerentes ao estudo na sala de aula.
Dentro
da escola, os saberes de ciências buscam favorecer o aluno em sua trajetória,
objetivando suas realizações e visando à conscientização de problemas relacionados
ao ser humano e ao meio ambiente circundante,
estando assim bem próximo de sua realidade, o que é de extrema importância para
o interesse e efetivo entendimento do estudo.
Desafiar e conquistar o interesse dos alunos para a grande variedade
do ensino das ciências e envolve-los com o tema com liberdade de expressão, acreditando
que a troca de saberes faça-os sujeitos autônomos de suas produções,
tornando-os cidadãos críticos sobre o mundo, valorizando-os em seu cotidiano
escolar e sua vida social, devem ser sempre as metas que norteiam qualquer
projeto pedagógico. Assim, torna-se possível realizar mudanças em seus
ambientes sociais e culturais, acarretando uma gama inestimável de valores e
princípios que serão levados por toda a vida.
A cultura escolar é diversificada e se apresenta
de várias formas. Quando falamos de alunos, estamos lidando com conhecimentos prévios
do sujeito aluno e, portanto, dizer que o aluno é um sujeito vazio de saber é
errôneo, uma vez que suas formas de conhecimento podem ser adquiridas de várias
maneiras através de seus grupos sociais, os quais envolvem região, família e religião.
Os saberes de ciências naturais na escola
tendem a se entrelaçar, aproximando o aluno do ambiente em que o rodeia e dessa
forma, conscientizá-lo para o seu crescimento pessoal e sua autoestima, de modo
a leva-lo ao conhecimento de si próprio como sujeito digno de saberes.
A
educação em ciências naturais é considerada um processo significativo para o
sujeito, pois através da interação aluno/docente, a didática apresentada não
pode se ater apenas a teoria, uma vez que a ciência no ensino fundamental se
constrói através das práticas do cotidiano do aluno, os quais adquirem conhecimentos
sobre suas experiências vivenciadas, fazendo-os refletir com consciência e
tornando-os seres construtivos em busca de seus anseios. Neste aspecto, é
possível destacar que o ser humano que se pretende construir é um ser social,
como pontua a teoria de Vygotsky:
"Quando
nos referimos ao valor das interações em sala de aula, é importante pensarmos
que este referencial não compactua com a ideia de classes socialmente
homogêneas, onde uma determinada classe social organiza o sistema educacional
de forma a reproduzir seu domínio social e sua visão de mundo. Também não
aceitamos a ideia de sala de aula arrumada, onde todos devem ouvir uma só
pessoa transmitindo informações que são acumuladas nos cadernos dos alunos de
forma a reproduzir em determinado saber eleito como importante e fundamental
para a vida de todos." (VYGOTSKY.1896-1934).
Desenvolvimento
Estudos teórico-metodológicos
A
etapa dos estudos teórico-metodológicos foi constituída através da leitura de
artigos científicos, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências Naturais, autores
renomados como Paulo Freire, Jean Piaget e Lev Vygotsky e discussões de textos no campo da educação, que originou
uma
compreensão
mais ampla que
perpassavam
o
tema
e
a
discussão
sobre
a
importância
da
problematização,
com
conteúdo
emancipatório
na
abordagem
crítica
em
educação de ciências.
Segundo o PCN de 1997:
“Mostrar a Ciência
como um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas
transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como
indivíduo, é a meta que se propõe para o ensino da área na escola fundamental.
A apropriação de seus conceitos e procedimentos pode contribuir para o
questionamento do que se vê e ouve, para a ampliação das explicações acerca dos
fenômenos da natureza, para a compreensão e valoração dos modos de intervir na
natureza e de utilizar seus recursos, para a compreensão dos recursos
tecnológicos que realizam essas mediações, para a reflexão sobre questões
éticas implícitas nas relações entre Ciência, Sociedade e Tecnologia.” (Parâmetros
Curriculares Nacionais, 1997, p.21).
Através desta perspectiva,
o Projeto de “Combate à Dengue” foi construído a partir da problematização
apresentada pelos alunos da escola com a finalidade de atender uma demanda também
da comunidade que se encontrava com alto índice da doença e proliferação do
mosquito Aedes Aegypti. Iniciou-se na
sala de aula um questionamento sobre a doença e suas particularidades,
pontuando a falta de
entendimento dos alunos a
respeito da dengue.
Deste modo, como primeiro
esclarecimento, foram feitas algumas pesquisas acerca do assunto supracitado de
modo a inicia-los ao tema, explicando-os onde e quando surgiu o mosquito da
Dengue, como ele se manifestou e quais as causas para um ambiente de
proliferação. O trabalho foi iniciado, utilizando sempre uma linguagem de
acordo com suas respectivas idades e imagens para elaboração de ideias.
Faz-se necessário destacar
que a criança se envolve com uma atividade quando é despertado em seu
consciente um significado substancial que atenda as suas expectativas e a sua compreensão.
Desta forma, para este projeto transcorrer harmoniosamente, o diálogo
facilitador em sala de aula seria o princípio de vários questionamentos, a fim
de que todos alcançassem o entendimento exigido:
“Estamos sempre
nos comunicando, pelo menos não verbalmente, e as palavras são quase sempre a
parte menos importante. Um suspiro, sorriso ou olhar são formas de comunicação.
Até nossos pensamentos são formas de nos comunicarmos conosco, e eles se
revelam aos outros pelos nossos olhos, tons de voz, atitudes e movimentos
corporais.” (STEVE & FAULKNER, 1995, p. 22).
O
projeto também tencionava proporcionar aos alunos da escola a possibilidade de participação em um projeto acadêmico de ensino para
seu desenvolvimento de cidadãos atuantes e conscientes nas questões
apresentadas, por meio da problematização dessa temática, assim como Paulo Freire nos direciona:
“(...) a educação sozinha não emancipa ninguém, mas sem ela não há
emancipação. A emancipação deve ter por meta sujeitos autodeterminados, livres
objetivamente de qualquer tipo de constrangimentos ou mazelas que aprisionam os
indivíduos [...] é preciso saber refletir sobre essa realidade, perceber-se como
sujeitos históricos que podem se posicionar, emitir opiniões, fazer escolhas, construir
rumos para suas vidas”.(FREIRE, 2010 apud GOHN, 2010, pp.58-59).
Considerando a importância de se trabalhar com diferentes áreas de formação docente,
a pedagogia e a biologia se entrelaçaram para trocar informações, tornando assim as discussões mais complexas e produtivas, principalmente na criação de estratégias para a elaboração do tema na escola.
“A principal meta da educação é criar
homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que
outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores,
descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em
condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.” (PIAGET,
Jean. 1896 – 1980).
O
projeto de intervenção foi originado em reuniões do grupo PIBID - UFJF para a
construção do estudo do tema e sua efetivação e viabilidade dentro do âmbito
escolar e acadêmico.
A partir das metas apresentadas nas reuniões, desenvolveram-se os seguintes objetivos
para os bolsistas:
· Entrelaçar a teoria e prática para o desenvolvimento de estudos em campo;
· Adquirir experiências na profissão de
docente;
· Aproximar alunos acadêmicos da escola e
seu cotidiano escolar, tornando-os capazes de planejar suas práticas pedagógicas;
· Planejar e desenvolver projetos
pedagógicos dentro dos fundamentos teóricos e metodológicos em acordo com as
necessidades pertinentes do contexto escolar.
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