domingo, 7 de setembro de 2014

Projeto de Combate a Dengue: educabilidades possíveis a partir do enfoque doença.

Universidade Federal de Juiz de ForaUFJF
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo relatar a intervenção pedagógica realizada sob a perspectiva da educação em ciências para os anos iniciais do ensino fundamental, tendo como conceito construir conhecimentos a priori em uma escola pública da rede municipal, na cidade de Juiz de Fora, acerca de assuntos relativamente ativos na comunidade a qual a escola está inserida. Através do Programa Institucional da Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), realizado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o acesso à sala de aula foi possível, permitindo assim a atuação e prosseguimento do projeto denominado “Combate a Dengue”, visto que esta doença se alastrou de maneira significativa na cidade de Juiz de Fora e a prevenção era o fator determinante para reduzir o número de casos encontrados. Neste contexto, o trabalho sobre a dengue possibilitou diversas veredas enriquecedoras para atrair a atenção dos alunos e através da vasta temática sobre doenças, o projeto rompeu os muros escolares na busca pelo verdadeiro papel da escola na sociedade: a reflexão dos cidadãos sobre como construirmos um mundo que queremos viver.
Palavras-chave: Ensino de ciências; Combate a dengue; Reflexão.
Introdução
Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado um aumento rigoroso de casos e óbitos causados pela dengue. Segundo dados estatísticos da Organização Pan-Americana da Saúde (Pan American Health Organization – PAHO), no ano de 2012, o Brasil apresentou 70.489 casos e em 2013, apresentou 204.650 notificações.  
Considerando a proliferação do Aedes Aegypti, que alcança a fase adulta entre sete a dez dias e observando também que sua reprodução depende de ambientes facilmente propícios, é notório pontuar que esta doença está cada vez mais constante em nosso país e, visto que a ferramenta principal para a erradicação da doença é a prevenção, iniciou-se a estrutura de um projeto que tivesse como objetivo fim, primeiramente, apresentar como prevenir a sociedade desta doença.
A partir das observações dos números de casos cada vez mais recorrentes na cidade de Juiz de Fora e da localização da escola em um bairro com números alarmantes de dengue, começou-se a processar efetivamente a viabilidade do projeto na escola.

A bolsa PIBID, programa desenvolvido pela UFJF, procura alinhar conhecimentos teóricos e práticos, como também entrelaçar diversas licenciaturas a fim de que todo o processo seja, de algum modo, um aprendizado pedagógico. Como fundamento para o projeto era necessário à união das disciplinas de ciências e pedagogia, como forma de amplamente ensinar a todos, não apenas aos alunos, a ciência envolvida no problema proposto. Assim, o estudo de ciências nas escolas tornou-se um instrumento valioso para desenvolver o processo de construção do conhecimento do aluno, destacando o papel escolar no contexto social, buscando o entendimento dos alunos a priori, para em um segundo momento, leva-los às famílias.
Sendo assim, o professor é um facilitador do processo de ensino, que no estudo das ciências nas escolas pode também tornar-se um grande aliado no aumento da qualidade de vida de seus atores, visto que as ciências envolvem temas de bem-estar social, prevenção e combate, alimentação, reciclagem e tantos outros assuntos inerentes ao estudo na sala de aula.
Dentro da escola, os saberes de ciências buscam favorecer o aluno em sua trajetória, objetivando suas realizações e visando à conscientização de problemas relacionados ao ser humano e ao meio ambiente circundante, estando assim bem próximo de sua realidade, o que é de extrema importância para o interesse e efetivo entendimento do estudo.  

Desafiar e conquistar o interesse dos alunos para a grande variedade do ensino das ciências e envolve-los com o tema com liberdade de expressão, acreditando que a troca de saberes faça-os sujeitos autônomos de suas produções, tornando-os cidadãos críticos sobre o mundo, valorizando-os em seu cotidiano escolar e sua vida social, devem ser sempre as metas que norteiam qualquer projeto pedagógico. Assim, torna-se possível realizar mudanças em seus ambientes sociais e culturais, acarretando uma gama inestimável de valores e princípios que serão levados por toda a vida.

A cultura escolar é diversificada e se apresenta de várias formas. Quando falamos de alunos, estamos lidando com conhecimentos prévios do sujeito aluno e, portanto, dizer que o aluno é um sujeito vazio de saber é errôneo, uma vez que suas formas de conhecimento podem ser adquiridas de várias maneiras através de seus grupos sociais, os quais envolvem região, família e religião.

Os saberes de ciências naturais na escola tendem a se entrelaçar, aproximando o aluno do ambiente em que o rodeia e dessa forma, conscientizá-lo para o seu crescimento pessoal e sua autoestima, de modo a leva-lo ao conhecimento de si próprio como sujeito digno de saberes.

A educação em ciências naturais é considerada um processo significativo para o sujeito, pois através da interação aluno/docente, a didática apresentada não pode se ater apenas a teoria, uma vez que a ciência no ensino fundamental se constrói através das práticas do cotidiano do aluno, os quais adquirem conhecimentos sobre suas experiências vivenciadas, fazendo-os refletir com consciência e tornando-os seres construtivos em busca de seus anseios. Neste aspecto, é possível destacar que o ser humano que se pretende construir é um ser social, como pontua a teoria de Vygotsky:

"Quando nos referimos ao valor das interações em sala de aula, é importante pensarmos que este referencial não compactua com a ideia de classes socialmente homogêneas, onde uma determinada classe social organiza o sistema educacional de forma a reproduzir seu domínio social e sua visão de mundo. Também não aceitamos a ideia de sala de aula arrumada, onde todos devem ouvir uma só pessoa transmitindo informações que são acumuladas nos cadernos dos alunos de forma a reproduzir em determinado saber eleito como importante e fundamental para a vida de todos." (VYGOTSKY.1896-1934).


Desenvolvimento

Estudos teórico-metodológicos

A etapa dos estudos teórico-metodológicos foi constituída através da leitura de artigos científicos, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências Naturais, autores renomados como Paulo Freire, Jean Piaget e Lev Vygotsky e discussões de textos no campo da educação, que originou uma compreensão mais ampla que perpassavam o tema e a discussão sobre a importância da problematização, com conteúdo emancipatório na abordagem crítica em educação de ciências. Segundo o PCN de 1997:
“Mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduo, é a meta que se propõe para o ensino da área na escola fundamental. A apropriação de seus conceitos e procedimentos pode contribuir para o questionamento do que se vê e ouve, para a ampliação das explicações acerca dos fenômenos da natureza, para a compreensão e valoração dos modos de intervir na natureza e de utilizar seus recursos, para a compreensão dos recursos tecnológicos que realizam essas mediações, para a reflexão sobre questões éticas implícitas nas relações entre Ciência, Sociedade e Tecnologia.” (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, p.21).
Através desta perspectiva, o Projeto de “Combate à Dengue” foi construído a partir da problematização apresentada pelos alunos da escola com a finalidade de atender uma demanda também da comunidade que se encontrava com alto índice da doença e proliferação do mosquito Aedes Aegypti. Iniciou-se na sala de aula um questionamento sobre a doença e suas particularidades, pontuando a falta de entendimento dos alunos a respeito da dengue.

Deste modo, como primeiro esclarecimento, foram feitas algumas pesquisas acerca do assunto supracitado de modo a inicia-los ao tema, explicando-os onde e quando surgiu o mosquito da Dengue, como ele se manifestou e quais as causas para um ambiente de proliferação. O trabalho foi iniciado, utilizando sempre uma linguagem de acordo com suas respectivas idades e imagens para elaboração de ideias.

Faz-se necessário destacar que a criança se envolve com uma atividade quando é despertado em seu consciente um significado substancial que atenda as suas expectativas e a sua compreensão. Desta forma, para este projeto transcorrer harmoniosamente, o diálogo facilitador em sala de aula seria o princípio de vários questionamentos, a fim de que todos alcançassem o entendimento exigido:

“Estamos sempre nos comunicando, pelo menos não verbalmente, e as palavras são quase sempre a parte menos importante. Um suspiro, sorriso ou olhar são formas de comunicação. Até nossos pensamentos são formas de nos comunicarmos conosco, e eles se revelam aos outros pelos nossos olhos, tons de voz, atitudes e movimentos corporais.” (STEVE & FAULKNER, 1995, p. 22).

O projeto também tencionava proporcionar aos alunos da escola a possibilidade de participação em um projeto acadêmico de ensino para seu desenvolvimento de cidadãos atuantes e conscientes nas questões apresentadas, por meio da problematização dessa temática, assim como Paulo Freire nos direciona:

“(...) a educação sozinha não emancipa ninguém, mas sem ela não há emancipação. A emancipação deve ter por meta sujeitos autodeterminados, livres objetivamente de qualquer tipo de constrangimentos ou mazelas que aprisionam os indivíduos [...] é preciso saber refletir sobre essa realidade, perceber-se como sujeitos históricos que podem se posicionar, emitir opiniões, fazer escolhas, construir rumos para suas vidas”.(FREIRE, 2010 apud GOHN, 2010, pp.58-59).

Considerando a importância de se trabalhar com diferentes áreas de formação docente, a pedagogia e a biologia se entrelaçaram para trocar informações, tornando assim as discussões mais complexas e produtivas, principalmente na criação de estratégias para a elaboração do tema na escola.

“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.” (PIAGET, Jean. 1896 – 1980).                                                                

O projeto de intervenção foi originado em reuniões do grupo PIBID - UFJF para a construção do estudo do tema e sua efetivação e viabilidade dentro do âmbito escolar e acadêmico.
A partir das metas apresentadas nas reuniões, desenvolveram-se os seguintes objetivos para os bolsistas:

·      Entrelaçar a teoria e prática para o desenvolvimento de estudos em campo;

·      Adquirir experiências na profissão de docente;

·      Aproximar alunos acadêmicos da escola e seu cotidiano escolar, tornando-os capazes de planejar suas práticas pedagógicas;

·      Planejar e desenvolver projetos pedagógicos dentro dos fundamentos teóricos e metodológicos em acordo com as necessidades pertinentes do contexto escolar.

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